A reverência dos membros da igreja na participação do culto e os perigos
Publicado em 13/06/2025
Irmãos, temos uma herança doutrinária e litúrgica profundamente enraizada nas Escrituras e nas tradições da Reforma. Desde nossa fundação, dentre outras coisas, entendemos ser necessária a reverência no culto cristão. Ao participar dele, os membros da IPC não estão apenas realizando um rito social, mas entrando, pela fé, em comunhão com o Deus vivo, Senhor absoluto do universo. Com a evolução cultural nas últimas décadas, torna-se necessário pensar e repensar constantemente o papel dos fiéis no culto público. Temos percebido um crescente afastamento da reverência como elemento indispensável à adoração, uma tendência que não apenas empobrece a qualidade do momento, mas também compromete a formação espiritual de toda a comunidade. Quero propor uma reflexão teológica, bíblica e pastoral sobre a importância da reverência dos membros da igreja na participação dessa atividade, e alertá-los para os graves perigos decorrentes de sua omissão.
A fé reformada entende o culto como o momento em que o povo de Deus se reúne formalmente, em espírito e em verdade, diante d'Ele para prestar-Lhe glória, ouvir Sua Palavra, confessar seus pecados, encontrar consolo e renovar a aliança. O culto é, por natureza, teocêntrico: Deus é tanto o sujeito quanto o objeto da adoração. Nessa dinâmica, os membros da igreja desempenham o papel de adoradores ativos e conscientes. Participar do culto não é ser espectador de um evento dominical, mas envolver-se pessoal e comunitariamente na adoração que o Senhor requer, participando com temor e alegria. Contudo, muitos hoje vêm sem preparo, sem entendimento e, principalmente, sem reverência. Há dispersão, superficialidade, falta de pontualidade, desatenção durante a pregação, conversas paralelas, uso indevido do celular, trajes inadequados e, sobretudo, uma ausência do senso de que “o Senhor está neste lugar”.
Reverência é uma atitude interior e exterior de temor piedoso, respeito santo e humildade diante da santidade de Deus. Não é rigidez formal, nem apenas tradição litúrgica, mas a forma visível de uma alma que reconhece que está na presença d'Aquele que “habita na luz inacessível” (ITm 6.16). No Antigo Testamento, a reverência era central no culto, quando os sacerdotes se preparavam com rituais, o povo se purificava, os objetos eram santificados e o espaço do templo era tratado como santíssimo. No Novo Testamento, o véu foi rasgado, mas a reverência não foi abolida. O escritor aos Hebreus exorta: “retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e temor. Porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12.28-29). A reverência deve ser cultivada na participação de todos e em todos os momentos:
A reverência não é somente um mandamento bíblico. É uma expressão de maturidade espiritual, em que a santidade de Deus molda nosso modo de estar e agir diante d'Ele.
Quando os membros perdem a reverência durante o culto, os efeitos negativos se espalham por toda a igreja, atingindo não só a qualidade da adoração, mas também a espiritualidade, a unidade e o testemunho cristão. Podemos destacar alguns perigos concretos:
A ausência de respeito é, em última instância, uma afronta ao caráter santo de Deus. Como os filhos de Aarão, que ofereceram “fogo estranho” (Lv 10.1-3), corremos o risco de nos aproximar d'Ele com leviandade, ignorando a consideração que Ele requer. Deus não se agrada de um coração que cultua por hábito, por vaidade ou desatenção. Se o culto se torna apenas um ambiente informal e utilitário, transformamos o sagrado em profano, como fez o povo de Israel que “com os lábios honrava a Deus, mas seu coração estava longe” (Is 29.13; Mt 15.8-9).
A falta de temor contribui diretamente para uma espiritualidade rasa. O culto público é o principal meio de edificação comunitária da fé. Se este momento é tratado com descuido, como podemos esperar que os fiéis vivam com profundidade durante a semana? Muitos cristãos não crescem espiritualmente, porque não aprendem a valorizar o culto como encontro com Deus, esquecendo que ele é formativo e disciplinador. Quando há reverência no culto, há zelo na vida devocional. Quando há dispersão, há descompromisso no viver cristão.
Outro risco decorrente da irreverência é o escândalo causado a visitantes e novos convertidos. Uma igreja que canta com desatenção, que chega atrasada, que conversa durante a pregação ou que se comporta como numa reunião social transmite uma mensagem de relaxo espiritual. O culto tem impacto evangelístico. É onde o mundo deve ver que Deus é servido com temor e alegria. Quando os membros não refletem com seus atos, essa atitude de honra, enfraquecem a autoridade do culto e o testemunho da igreja.
Sem reverência, cresce a permissividade no seio da igreja. A liderança receia corrigir os maus hábitos para não parecer severa. As famílias se acomodam em vir ao culto com qualquer vestimenta, a conversar ou enviar mensagens usando o celular e a participar sem preparação espiritual. Jovens e crianças são deixados sem ensino e correção. Aos poucos, perde-se o zelo, e os padrões espirituais são negociados.
Por fim, sem reverência, perde-se a própria fisionomia da fé reformada. A tradição calvinista nunca foi uma tradição sensorial ou performática, mas profundamente bíblica e reverente. Reduzir o culto a um acontecimento leve e casual, para “não espantar os visitantes”, é perder contato com nossos próprios fundamentos eclesiológicos. A reverência é a face visível de uma eclesiologia centrada em Deus.
A boa notícia é que a reverência pode ser ensinada, recuperada e cultivada. A IPC tem recursos teológicos, doutrinários e litúrgicos abundantes para promover uma renovação saudável da reverência entre seus fiéis. Algumas estratégias podem ser apontadas:
Pastores e presbíteros devem pregar sobre a santidade de Deus, o propósito do culto e as exigências bíblicas para os adoradores. A instrução doutrinária deve integrar o ensino sobre o culto reverente, indo além do debate sobre formas externas, focando o coração do adorador.
As famílias precisam ser encorajadas a se prepararem, ainda em seus lares, para participar espiritualmente do culto.
É possível educar a igreja a se preparar antes do culto com momentos de oração silenciosa, meditação e silêncio reverente.
Os oficiais devem conduzir a cerimônia religiosa de forma exemplar. A maneira como se conduz a liturgia influencia a reverência geral da igreja.
Quando necessário, a liderança deve corrigir fraternalmente comportamentos impróprios ou negligentes no culto. A disciplina da igreja inclui o zelo espiritual nos momentos de adoração. A correção não é legalismo, mas cuidado pastoral.
Pensar e repensar a IPC no culto a Deus exige que olhemos com seriedade para o estado da participação de toda a igreja. A irreverência é um sintoma de uma espiritualidade que perdeu o temor, e por isso, o compromisso com a santidade e com a centralidade de Deus na vida da comunidade de fé. O culto não é um apêndice da vida cristã; é seu centro. Quando nós adoramos com reverência, glorificamos a Deus, edificamos a nós mesmos e testificamos ao mundo que há um só Senhor diante do qual toda a criatura deve dobrar os joelhos. Recuperar a reverência não é um convite à rigidez ou ao tradicionalismo estéril, mas um clamor por profundidade, consciência espiritual e santidade. A qualidade do culto depende, em grande parte, da disposição interior dos adoradores. Que possamos, como igreja, ouvir com temor as palavras sagradas: “Guardai os vossos pés quando entrares na Casa de Deus” (Eclesiastes 5.1), e que sejamos um povo que adora ao Senhor com reverência e alegria, servindo-O de todo o coração!
Um grande abraço, Soli Deo Gloria.
Pr. Márcio Alves Oliveira
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