Pensando e repensando a IPC.
Publicado em 03/07/2025
Na minha busca de pensar e repensar a IPC, depois de falar sobre a reverência no culto, surge uma questão fundamental: para quem o culto é realmente oferecido? Essa pergunta também precisa ser respondida, caso contrário, o culto se tornará vazio e sem sentido.
Histórica e teologicamente, o culto cristão é concebido como uma resposta humana à iniciativa divina. Ele é uma expressão de adoração a Deus, centrado em Sua glória, santidade e soberania. Contudo, em um cenário contemporâneo em que o individualismo e o pragmatismo são predominantes, o perigo de direcioná-lo para agradar a congregação ou atrair visitantes é uma realidade que não podemos ignorar.
Quero explorar a questão central: para quem é o culto, destacando o foco tradicional nos preceitos bíblicos e teológicos, bem como os desafios atuais de manter Deus como o centro indiscutível da nossa adoração.
Desde o Antigo Testamento, a adoração sempre foi apresentada como algo direcionado exclusivamente a Deus. No Salmo 9.2, encontramos a exortação: “Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome; adorai o Senhor na beleza da santidade”. Esse
reconhecimento de que a glória pertence a Deus é reiterado em todo o texto bíblico.
O primeiro mandamento, em Êxodo 20, estabelece a exclusividade de Deus como objeto de adoração: “Não terás outros deuses diante de mim”. Os profetas frequentemente chamavam o povo de Israel ao arrependimento, precisamente por essa infidelidade no culto. Acentralidade de Deus na adoração é um marcador da pureza e autenticidade espiritual do povo de Deus.
No Novo Testamento, Jesus reafirma essa centralidade. Quando conversa com a mulher samaritana, Ele esclarece que “os
verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade” (João 4.23), ressaltando a natureza espiritual e teocêntrica da adoração.
A prática dos primeiros cristãos, ao se reunirem para comer o pão e ouvir a Palavra, estava sempre direcionada à glória de Cristo ressurreto. Mesmo nas epístolas de Paulo, o culto é centrado na edificação da comunidade para a glória de Deus (I Coríntios 10.31).
Hoje, muitos líderes e igrejas enfrentam a pressão de fazer o culto “aconchegante” para atrair pessoas. Aideia de que o culto deve ser agradável à congregação pode, facilmente, escorregar para um modelo em que as preferências dos fiéis se tornam o critério definidor da liturgia.
Essa abordagem é, muitas vezes, impulsionada por uma intenção legítima de evangelizar e alcançar mais pessoas. No entanto, quando o culto é configurado, principalmente como um meio de entretenimento ou autoajuda, ele se torna uma plataforma antropocêntrica, perdendo seu caráter divinamente orientado.
A consequência mais imediata de um culto voltado para as necessidades dos homens é o empobrecimento espiritual. Uma
adoração que procura agradar mais aos presentes do que glorificar a Deus, pode levar a uma minimização da proclamação do Evangelho, uma diluição da doutrina e uma falta de transformação autêntica.
Quando a igreja se preocupa excessivamente com números e aprovações humanas, ela corre o risco de comprometer sua integridade teológica. Areverência perde espaço para o entretenimento, a pregação bíblica é substituída por discursos agradáveis, e a oração pode se tornar um exercício superficial em vez de um poderoso meio de comunicação com Deus.
Diante desse cenário, é fundamental que a IPC reafirme sua compreensão do culto como uma experiência centrada em Deus, não na igreja ou nos homens. Isso não exclui o cuidado pastoral com os membros, mas redefine o lugar correto de cada elemento no culto.
É importante lembrar que cultuar a Deus não significa ignorar os contextos culturais e pessoais dos participantes. A relevância cultural não é em si uma ameaça, desde que a reverência e a centralidade em Deus não sejam comprometidas.
Pensar e repensar a IPC enquanto adoradores nos leva de volta à pergunta central: para quem é o culto? Os reformadores
entenderam com clareza que a adoração é uma resposta à revelação de Deus, e não um espetáculo ou uma oficina comunitária para satisfação pessoal.
A igreja do século XXI enfrenta enormes pressões sociais, culturais e econômicas. Em meio a tudo isso, é essencial que
mantenhamos a adoração bíblica e teocêntrica como nosso guia. Quando nos centramos em Deus, honramos nossa tradição reformada e vivemos de acordo com a nossa vocação como embaixadores de Cristo no mundo.
Num tempo de incertezas, que possamos seguir o exemplo dos santos que vieram antes de nós, proclamando juntos como Igreja: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua fidelidade e do teu amor” (Salmo 115.1). Que a IPC jamais tenha dúvidas de que o culto é unicamente para Deus. Que você, ao vir cultuar ao Senhor, jamais volte seus olhos para si mesmo, mas abra os lábios e o coração dizendo: toda honra e toda glória pertencem a Ti, Senhor!
Deus os abençoe sempre e um grande abraço,
Pr. Márcio Alves Oliveira
55 31 3825-1644
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