Sempre me interessei pela olaria. A dinâmica de ver o barro, em seu estado natural, ser transformado em algo tão belo como um vaso sempre me fascinou. E, na roda do oleiro, há alguns elementos que não podem faltar.
Um deles é o barro, retirado dos barreiros, limpo e colocado sobre a roda. O outro é a água que, derramada na quantidade certa e no momento certo, amolece o barro o suficiente para que ele possa ser transformado em vaso. Sem a água, o barro permanece apenas barro. O terceiro elemento é o próprio oleiro — mais precisamente, suas mãos — que seguram, amassam e modelam o barro.
Em Jeremias, capítulo 18, lemos que Deus revela ao profeta Seu desejo de trabalhar na vida do povo a partir dessa figura. O Senhor diz a Jeremias:
“Como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel.” (Jr 18.6)
Jeremias viveu cerca de 600 anos antes de Cristo e foi profeta em uma época especialmente complicada. O povo havia se distanciado do Senhor, seguindo caminhos de idolatria, corrupção e imoralidade. Deus pesou a mão sobre eles para que houvesse arrependimento e, ao mesmo tempo, mostrou-se incansável em perdoar e restaurar. É nesse contexto que Ele concede a Jeremias a marcante imagem do oleiro refazendo um vaso quebrado.
Que linda cena: Deus ocupado conosco! Somos alvos de Sua atenção e do Seu cuidado desde a primeira vez em que Ele pôs as mãos no barro para criar nosso pai Adão.
No entanto, a figura é ainda mais complexa. Mesmo estando nas mãos do oleiro, o vaso se quebra. Dentre tantos motivos que podem levar um vaso a se romper ainda na roda, um dos mais frequentes é a impureza do barro. Mesmo depois de escolhido, limpo e tratado, ele ainda pode carregar impurezas: uma pequena pedra, um pedaço de raiz ou uma parte mais endurecida. Isso nos mostra a força do pecado, que tende a corroer e colapsar tudo o que toca.
Diante disso, surge uma pergunta inevitável: quais são as impurezas da nossa vida que precisam urgentemente ser identificadas, tratadas e abandonadas?
A parte mais fascinante dessa figura, porém, revela-se quando o vaso se quebra e o oleiro decide refazê-lo. O texto diz:
“Como o vaso que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu.” (Jr 18.4)
Eu amo esta sentença: “segundo bem lhe pareceu”. Ela aponta para três verdades fundamentais: descanso, expectativa e submissão.
Descanso, porque é o imperativo da graça de Deus que nos molda, não desiste de nós e insiste em nos tornar um vaso de honra. Estamos em boas mãos.
Expectativa, porque revela que Deus tem um plano, um propósito claro e definido para cada um de Seus filhos. Esse plano pode envolver processos difíceis e quebras dolorosas, mas também abundante graça e completa restauração.
E submissão, porque não é segundo bem me pareceu, mas segundo bem Lhe pareceu. É a vontade do Senhor, não a nossa. É o tempo do Senhor, não o nosso. É o plano do Oleiro, não do barro.
Por fim, encontramos um convite. Deus afirma que pode fazer com Seus filhos o mesmo que o oleiro fez com o vaso quebrado: reconstruí-lo. É um convite à fé. Um convite para que o barro confie no Oleiro.
Não somos chamados a trabalhar o barro, escolher o formato ou mesmo purificá-lo. Somos chamados a crer. E é nessa jornada de fé que, mesmo sendo amassados ou até pisados, podemos olhar para o Altíssimo e dizer:
Louvado seja o Teu nome, porque não desististe de mim.
Seja feita a Tua vontade.
Ronaldo Lidório
Pastor e missionário presbiteriano
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